Projeto DUDA

Projeto DUDA

13 de setembro de 2015

“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante”!

     Os direitos animais trazem para o campo educativo a necessidade urgente da abolição do ensino pautado na incoerência lógica, moral e científica que considera que tudo no universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o homem.
     Este texto foi elaborado como uma reflexão sobre a atitude da administração de uma escola católica em não aceitar em seu entorno a permanência de um “cão comunitário” que estava em tratamento de saúde. Curiosamente a escola tem o nome de São Francisco, que é o  protetor dos animais.
       Uma rápida história verídica:
    Era uma vez…. Um cão de rua, de nome Bilu. Ele era velhinho, sarnento, que vivia na rua, nas imediações de uma escola católica. Curiosamente o nome da instituição era São Francisco, o protetor dos animais. Certo dia, a administração se sentiu incomodada com o Bilu. O resultado não foi outro: dá-lhe canil municipal, para se livrar do Bilu de uma vez por todas! O canil, o recusou... Bilu iria continuar poluindo o visual da nobre escola.
     Por fim, anjos  apareceram e, quem sabe não foram enviados por  Francisco de Assis?! Vieram e lhe enviaram para um abrigo provisório para completar o seu tratamento e salvar a sua vida! E precisou até de manifestação educativa e “puxativa de orelhas” para ensinar àqueles que não querem aprender as grandes lições de  Francisco de Assis: amor, união, fé, verdade, esperança, alegria e luz!
     Bilu é um cãozinho idoso, com sarna e representa apenas um nas estatísticas cruéis de abandono nas ruas em todo mundo. Mas calma! A vida dele não é só tragédia. Ele também é um exemplo de “cão comunitário” que recebe alimento e cuidados especiais de algumas pessoas que colocam em prática a solidariedade para com o próximo, incluindo os não-humanos, já que pelo ensinamento cristão “todos são filhos do mesmo Deus”.
     Ensinamento este também passado nas mais diversas religiões como o Budismo, o Hinduísmo dentre outras, onde os animais são personificados e detentores de alma, logo são capazes de exibir sentimentos de amor, de solidão, de depressão, como também de solidariedade para com outros animais (e para isso não faltam os mais diversos exemplos fidedignos em catástrofes, como o último...      Tsunami ocorrido no Japão, onde um cão pedia ajuda para a equipe de resgate – que prestou o devido atendimento – latindo incessantemente porque o seu “amigo” estava preso nos escombros e não podia andar. O cão, dito ser irracional, não sabia o que estava fazendo ao pedir socorro?! ).
     Mesmo para quem se considera o mais ferrenho ateu, a solidariedade para com os não-humanos, centra-se num jargão de origem cristã: “não fazer ao outro o que não gostaria que fizesse para si” e basta. Logo, praticar o bem assume diversas linhagens, mas que no fundo o resultado é o mesmo: aliviar o sofrimento de quem não pode falar para pedir ajuda que se faz através de um olhar, um gemido para demonstrar a sua real situação de vulnerabilidade, ou mesmo: “estou aqui e preciso de você”! Ou quem sabe podemos ser amigos?!
     No entanto, muitas pessoas ainda se sentem incomodadas com a presença de um animal de rua que não tem raça definida e que ainda exibe um visual não muito “belo”. Ainda mais numa sociedade materialista onde há a exaltação da beleza, da riqueza, do perfeito e do saudável e o que não for sinônimo disso, torna-se anormal ou até mesmo patológico. Bilu caberia aqui como mais um exemplo de desprezo dessas pessoas que ainda veem o mundo nessas categorias estereotipadas de realidade. Logo ele é um não-humano excluído socialmente do direito a viver na rua por lei (Lei 13.193/2009 ).

     Eis o paradoxo formado, que tipo de educação está sendo veiculada numa escola, cujos princípios deveriam versar sobre solidariedade, igualdade e amor ao próximo?
Que exemplos estão sendo dados? Que valores morais estão sendo formados? Esses questionamentos devem ser debatidos profundamente, quando hoje pela falta de tempo ou mesmo de  interesse dos pais, a educação dos seus filhos fica incumbida totalmente pela escola.
     Curiosamente, sou professora da rede pública de ensino e leciono numa escola de periferia em que existe o famoso “lãzinha”(ou lanzinha), por que ele parece realmente com uma ovelha (ou melhor um cordeiro!) por sua pelagem. Ele é um cão comunitário também idoso e adorado por todos. Afinal ele já se tornou uma figura histórica na comunidade escolar, se não me engano ele vive nas redondezas da escola há 15 anos. Ele tem duas madrinhas e porque não dizer “mães” que cuidam de seus mínimos detalhes de saúde e alimentação e o observam cuidadosamente para saber se está tudo bem com ele.
     Quando fica doente, é aquela preocupação, faz-se até uma vaquinha para custear o tratamento médico. Quer maior exemplo de respeito e solidariedade com um animal do que este no entorno de uma comunidade escolar? Sim, esta é uma escola pública, de periferia, do povo mesmo e pratica os ensinamentos de Francisco de Assis.

     A principal tarefa da educação transformadora é lidar com as diferenças de condição de vida, ou seja; as pseudo-hierarquias que foram estabelecidas entre humano e os não-humanos, e que criaram o abismo e os estranhamentos entre a humanidade e natureza. Tal processo criou o que assistimos hoje, a “crise civilizatória”, marcada por violências de todos os tipos, guerras, corrupção, discriminação de gênero e que na realidade representa a “crise do humano-humano” e que atua diretamente sobre o planeta de modo destrutivo.
     Logo, a educação biocêntrica prioriza o sentido de igualdade a existência de todos os seres, independente de hierarquias pré-estabelecidas e antropocêntricas que rebaixam a condição de existência de outros seres não-humanos a inferioridade.

       Swami Fonseca é bióloga e educadora

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